E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?
S. Mateus, Cap. 7, Vers. 3
Enda Kenny to Passos Coelho:
- A Precautionary Program? No, thanks; you can have it.
Caríssimos irmãos do Sul
Eis-me de novo em contacto convosco e, não por acaso, neste preciso momento. Como deveis saber, as negociações entre a CDU, da nossa Angela Merkel, e o SPD, dos sociais-democratas, chegaram recentemente a bom termo. Foram negociações longas e difíceis, mas foi possível um acordo. Foi o poeta português Fernando Pessoa, que disse: Tudo vale a pena se a alma não é pequena. E a nossa alma, a dos alemães, é tudo mas pequena é que não é. E temo-lo provado. É que nós, ao contrário dos nossos irmãos portugueses, somos capazes de nos sentarmos à mesa das negociações com os nossos adversários políticos. Somos capazes de discutir olhos nos olhos. Somos capazes de resolver em paz os nossos diferendos, e não à paulada. Somos capazes de nos entendermos , sem apelos à violência. Somos capazes de confrontar opiniões, sem recurso a frondas ou a frentismos. Somos capazes de trocar umas ideias sobre o(s) assunto(s), sem chamar à liça um qualquer D. Sebastião, em salas abarrotadas de nostálgicos ressentidos e brigadas do reumático, de sinal contrário. Se necessário, podemos transigir. Podemos perder aqui e ganhar acolá. Podemos ceder ali e compensar além. Isto é o que se chama negociar. Muito particularmente quando está em causa o interesse nacional. Interesse esse que deve sobrelevar qualquer outro. E pela parte da nossa Frau Merkel, é claro que houve cedências. Tinha de haver cedências. Houve cedências, por exemplo, no que respeita ao salário mínimo nacional e no tocante às portagens para estrangeiros. Mas houve também ganhos. Mantivemos o essencial da nossa política europeia. Essa política europeia, que foi a bandeira da nossa campanha eleitoral e que foi sufragada pela quase totalidade dos nossos compatriotas. Os nossos irmãos sul-europeus estavam à espera de Eurobonds e outras formas de mutualização das suas dívidas, mas debalde; apostaram no Orçamento único e na uniformização fiscal, mas perderam. Perderam em tudo o que dissesse respeito à política europeia da Alemanha. Neste capítulo, e que não é pouco, tudo como dantes. E mais: vamos manter no governo o nosso querido ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, que alguns meridionais da Europa já tinham matado e enterrado. Houve até quem dissesse que a boa notícia, decorrente das nossas últimas eleições, tinha sido o afastamento definitivo de Wolfgang Schäuble da cena política alemã. Enganaram-se. Mais uma vez. Aliás, no concernente às profecias da situação política do meu país, só têm saído duques aos adivinhos. Têm falhado em tudo. À falta de melhor pretexto para nos atacarem, agora até se preocupam com o nosso superavit de 7%. Em vez de se preocuparem com os seus gigantescos défices, e outras coisas que tais, os sul-europeus, nomeadamente os portugueses, lembraram-se de engalinhar com os resultados, francamente positivos, das nossas poupanças e do nosso rigor orçamental. Até nos querem obrigar a gastar mais do que precisamos, e mais do que fomos educados a gastar. Até nos querem dar lições de como gerir a nossa própria Economia. Até nos querem culpar das suas crises económicas e financeiras. Até nos querem transformar em bodes expiatórios. Vejam só isto. Uns gurus da Economia, que fizeram o que fizeram aos seus próprios países, agora querem transmitir aos outros as suas lindas experiências económicas. Era o que mais nos faltava. Cá está: só reparam no argueiro que está no olho do irmão e não vêem a trave que está no seu próprio olho.
Que olhem ao menos para os bons exemplos. Que olhem para a Irlanda, esse país de matriz anglo-saxónica que conseguiu dar a volta por cima. Esse país que não andou à espera das eleições alemãs para ver onde paravam as modas. Esse país que não perde tempo, nem espaço dos jornais, a fazer distinções entre o bom e o mau socialista. Esse país que não perde tempo, nem espaço dos jornais, com maniqueísmos ideológicos. Esse país onde todos são bons e patriotas, independentemente das ideologias e dos socialismos de cada qual. Esse país que reconheceu humildemente os erros cometidos. Esse país que reconheceu pacificamente e sem alardes ter vivido acima das suas possibilidades. Esse país que fez o trabalho de casa quando isso era necessário. Esse país que saltou de indicadores estratosféricos da défice, da dívida e do desemprego para níveis normais ou quase normais. Esse país onde a palavra de ordem foi, e continua a ser, negociar. Negociar com todos, sem excepção. Negociar com os partidos políticos. Negociar com os sindicatos. Negociar com os patrões. Os irlandeses foram sensatos. Foram cordatos. Foram disciplinados. Os irlandeses não se deixaram levar por normas constitucionais. Nem pelo Tribunal Constucional. Nem pelos direitos adquiridos. Nem pelas conquistas civilizacionais. Nem pelo princípio da confiança. Nem pelo princípio da igualdade. Nem pelo princípio da proporcionalidade. Os irlandeses tinham razões de sobra para serem sensatos e realistas. Há três anos a situação económica e financeira da Irlanda era quase desesperada. Por isso outra palavra de ordem dos irlandeses foi também, e continua a ser, cortar. Duramente mas cortar. Cortar nos salários. Cortar nas pensões. Cortar nos subsídios. Cortar nas mordomias. Cortar no número de funcionários públicos. É por estas e por outras que os irlandeses estão a caminho da vitória. Sem programas cautelares nem segundos resgates. Os irlandeses é que são os bons alunos. Com provas dadas. É com os irlandeses que os povos do Sul da Europa deviam aprender, sem se deixarem enganar pelos profissionais das nostalgias e das utopias.
Ultimamente os nossos irmãos portugueses falaram muito do grande Immanuel Kant, discutindo-o e citando-o. Por isso não resisto a concluir esta epístola, com uma sentença desse meu estimado compatriota: Dormia e sonhei que a vida era beleza; acordei e vi que a vida é dever.
P.S. 1 - NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE ALBERT CAMUS
SARTRE, O ALTER EGO DE CAMUS
Para a Clara
Camus viveu obcecado por tudo o que Sartre pensava, dizia e escrevia, mas em contraponto. Camus fez de Sartre a sua imagem invertida. O seu duplo ao contrário.
Sartre publicou em 1938 um romance, na primeira pessoa, acerca de um solitário que deambula por uma nevoenta cidade portuária do Norte de França. Camus editou em 1942 um romance, na primeira pessoa, sobre um solitário que vagueia por uma soalheira cidade portuária da Argélia. O primeiro sente a náusea das coisas. O segundo vê a beleza das coisas. À sua maneira, o primeiro não tem grande amor à vida. À sua maneira, o segundo adora a vida.
Sartre fundou a Filosofia existencialista. Camus criou a Filosofia do Absurdo.
Sartre escreveu peças de teatro. Camus, também.
Sartre converteu-se ao comunismo, e idolatrou-o. Camus renegou o comunismo, e odiou-o.
Sartre apoiou com fervor a luta pela indendência da Argélia. Camus torceu o nariz à luta pela independência da Argélia.
Sartre acreditou no homem revolucionário. Camus preferiu o homem revoltado.
(Se non è vero, è bene trovato)
P. S. 2 - CÓDIGO CIVIL PORTUGUÊS
SUBSECÇÃO III - Interdições
ARTIGO 138.º - Pessoas sujeitas a interdição
1 - Podem ser interditos dos seus direitos todos aqueles que por anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira se mostrem incapazes de governar as suas pessoas e bens.
2. - As interdições são aplicáveis a maiores; (...)
ARTIGO 139.º - Capacidade do interdito e regime de interdição
Sem prejuízo do disposto nos artigos seguintes, o interdito é equiparado a menor, sendo-lhe aplicáveis, com as necessárias adaptações, as disposições que regulam a incapacidade por menoridade e fixam os meios de suprir o poder paternal.
ARTIGO 140.º - Competência dos tribunais comuns
Pertence ao tribunal por onde corre o processo de interdição a competência atribuída ao tribunal de menores nas disposições que regulam o suprimento do poder paternal.
os
. CORRENTE DE CONSCIÊNCIA -...
. CORRENTE DE CONSCIÊNCIA -...
. CADERNOS DO SUBTERRÂNEO (...
. CADERNOS DO SUBTERRÂNEO (...
. CADERNOS DO SUBTERRÂNEO (...
. CADERNOS DO SUBTERRÂNEO (...
. CADERNOS DO SUBTERRÂNEO (...
. CADERNOS DO SUBTERRÂNEO (...
. CADERNOS DO SUBTERRÂNEO (...